Era uma reentrância na margem do rio, um porto de abrigo natural, um sitio lindo desenhado pelos deuses de antigamente que para aqui vinham repousar após épicos e memoráveis feitos. Tudo por ali nos fazia lembrar os puros tempos de criança, as brincadeiras inocentes, os desejos comuns que eram sonhos tão grandes como o mundo e, até os barcos abraçados uns aos outros, enquanto aguardavam 0 lançar das redes amontoadas na proa, pareciam enamorados do azul do céu e das estrela que cintilavam no firmamento celeste nas noites fantásticas dos dias felizes. Havia pássaros, bandos deles nas árvores e rolas que cantavam incessantemente doces e suaves melodias.
Nesse tempo eras uma aparição divina, um raio de intensa e branca luz que iluminava a minha vida e as margens do rio e se reflectia em estranhos bailados nas suas águas, clarão sobrenatural a envolver de luz o sitio da nossa doce infância , um anjo que descia do céu ao meu encontro e me transportava até aos longínquos limites da imaginação.
As nossas mãos uniam-se, os olhares fundiam-se uns nos outros e eu, cego pela tua intensa claridade, só via aquilo que tu vias e alheio a tudo em meu redor, apenas sentia o apressado palpitar do teu coração enlaçado no meu que transbordava feliz as margens do meu peito.
Neste amanhecer de luz e de sombras em que, pressentindo tempestades, os ventos sopram alucinados sobre o rio e ressuscitam momentos de ternura e muitos dos sonhos inocentes que juntos sonhamos, ofereço, neste instante que considero único, uma lembrança, um pensamento cheio de amor só para ti.
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