sexta-feira, 4 de maio de 2018

Para Sempre

Sento-me na pedra à beira do rio e clamo aos ventos o teu nome. Sofro. Dói-me a aprazível paisagem que as minhas vistas alcançam, doem-me os barcos que passam aqui com e sem destino, doem-me as gaivotas que sobrevoam os teus olhos, doem-me as árvores, as casas, as pedras que seguram o céu, doem-me os cantos matinais das rolas, doem-me as flores silvestres que enfeitam os caminhos da nossa aldeia, as violetas, os malquereres, as urzes, as papoilas das beiras das ruas onde tu passavas, dói-me a tua ausência nos círculos desenhados na água pelas mãos da primavera que te levou com ela, dói-me a vida toda no sopro dos ventos que te trazem nas mãos.
Dormes amortalhado nas memórias do rio que te embalou, recolheste a casa, voltaste ao colo da nossa mãe. Que alegria deves ter sentido ao cruzar as ombreiras da porta da casa onde moram os anjos. Que música é essa que me chega aos ouvidos, parecem cânticos divinos ou será apenas o som da tua voz ausente a perguntar por mim. 
Que lindo é este anoitecer. O céu abre-se sobre a nossa terra raiado de brancos imaculados e eu imagino-te sentado à porta de casa a olhar o rio. Esta é a imagem permanente dos teus dias felizes, a última, a que levaste para mostrar no céu. 
Aqui na terra sentado na pedra à beira do nosso rio, lembro-me insistentemente de ti. Planeio meticulosamente o futuro que sei que não vou ter. Estou só mas contigo dentro de mim meu querido irmão...

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